As Alterações realizadas na Bíblia ao longo dos séculos, para adaptá-las às novas doutrinas teológicas, são “um caso muito sério”.
Por José Reis Chaves
Teósofo e biblista
Pode-se dizer que assim como há ditaduras políticas, há também as religiosas. E, ao raiar a liberdade democrática em uma nação, entre as primeiras providências advindas do novo regime democrático incluem-se os preparativos para que se promulgue logo uma nova constituição, com o objetivo de se aprimorar os direitos consentâneos à cidadania dos seus compatriotas.
Como religião, o Cristianismo não escapou de sua fase ditatorial, quando certas doutrinas teológicas polêmicas foram impostas à força pela ala ortodoxa da Igreja apoiada pelo poder temporal. E que é uma das reformas que deveriam ser feitas depois que o Tribunal do Santo Ofício chegou ao fim?
É estranho que certas doutrinas que os cristãos eram obrigados a aceitar – sob pena de serem condenados, inclusive à pena de morte na fogueira da Inquisição –, continuem em vigor. Tal como acontece com o fim dos regimes de força, o mesmo deveria ocorrer com as doutrinas religiosas impostas à força no passado, ferindo o direito humano de crer ou não crer naquilo que, reciprocamente, está de acordo ou não com a voz de sua consciência.
E, assim, toda doutrina religiosa que prevaleceu não pela lógica e pela razão, mas por coação, deveria ser revista. Esse é o problema mais grave do Cristianismo. E as autoridades eclesiásticas sabem disso – e como sabem –, mas nada fazem. Enquanto isso, o cristão anda cada vez mais descrente.
Nunca foi minha intenção desmoralizar a Igreja ou qualquer outra religião. Pelo contrário, até desejo que elas reencontrem o caminho certo do verdadeiro Cristianismo. A verdade é que alguns dogmas polêmicos só são aceitos por pessoas que não estudam a Bíblia, a teologia e a história do Cristianismo; ou então, que os estudam, mas com viseiras, pois que são comprometidas, profissionalmente, com seu sistema religioso, do qual tiram a sua subsistência.
Mas já havia advertido o Nazareno que não podemos servir a Deus e a mamon (dinheiro).
E o “Apóstolo dos Gentios” dizia que ele trabalha para seu sustento, evitando, assim, pesar para seus irmãos. Como sobejamente se sabe, as autoridades religiosas prestam uma obediência cega às que lhes são hierarquicamente superiores. E sua disciplina é tão rigorosa quanto a militar, ou às vezes até mesmo mais rigorosas do que a dos militares.
Confidenciou-me um padre que Jesus protege de fato a Igreja, caso contrário, ela já teria sucumbido, pois que o clero e os teólogos cristãos vem fazendo tudo para destruí-la, ao longo dos séculos. E embora eu não concorde totalmente com o renomado teólogo Albert Schweitzer, uma advertência sua incomoda-nos: “Quem é vacinado com o soro da teologia cristã, está imunizado contra o espírito do Cristo”.
Mas o certo é que a Bíblia, no decorrer dos séculos, sofreu várias transformações justamente para que fosse adaptada às novas doutrinas teológicas. E há pessoas ingênuas que ainda acham que a Bíblia é “ipsis litteris” a palavra de Deus. Segundo o maior biblista do mundo, Bart. D. Ehrman – Ph.D em Teologia em Princeton University, diretor do Departamento de Estudos Religioso da University of North Carolina e autor de “O que Jesus Disse? O que Jesus não Disse?” (Editorial Prestígio, 2006), a Bíblia tem cerca de 400.000 alterações, o que é um caso muito sério.
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